Estudo sobre Jó.
Este livro é mais que uma narrativa, ele oferece-nos
um profundo ensino teológico sobre o relacionamento com Deus, com base na
experiência de um homem chamado Jó. Fala-nos sobre o sofrimento, sim, mas,
sobretudo, fala-nos sobre o amor ao Senhor e da fé em Deus. A fé que independe
das circunstâncias, uma vez que está firmada no conhecimento de quem Deus é e
do que Ele pode fazer. A respeito das
causas do sofrimento humano, a nossa fragilidade e nossa existência, e os
motivos para se crer em Deus mesmo quando a vida parece muito injusta.
Assim, o livro de Jó não tem por
finalidade explicar as razões ou as causas do sofrimento humano, ainda que
esteja abordando este assunto de forma predominante em suas páginas. Antes de
tudo, o livro é uma proclamação teológica da grandeza de Deus, de seu poder e
de seu amor.
Como se dá em toda a Bíblia, o livro de Jó
aponta para Jesus Cristo. De forma especial, pela fé e esperança de Jó numa
existência futura, exortando os
fiéis a olharem além das tribulações desta vida em direção à gloriosa
Ressurreição possibilitada pelo Salvador ao declarar: “Eu sei que o meu Redentor vive” e “depois de destruído
este meu corpo, ainda verei a Deus” (Jó 19:25 e 26). Ele aguardava
confiantemente por um dia vindouro em que Alguém se levantaria sobre a terra
para defender a sua causa e redimir a sua vida. Esta esperança tem o seu
cumprimento em Jesus. A citação do nome de Jó em Ezequiel 14:14 e 20, em
associação com Noé e Daniel, e em Tiago 5:11, dão base à inferência de que sua
história é real.
Em sua brilhante história de um homem que se permaneceu íntegro e fiel a Deus
mesmo em meio a tantas e duras provações e tentações e com sua experiência e
convicção de Jó, este livro nos convida a refletir sobre duras perguntas e
difíceis, como “Por que as pessoas justas escolhem a retidão?” e “Por que os
justos sofrem?” — mas não oferece respostas simples. Na verdade, o livro de Jó convida os
leitores fiéis a exercerem fé em Deus, como quando Jó disse acerca do Senhor:
“Ainda que ele me mate, nele esperarei” (Jó 13:15)
O livro de Jó nos passa também a difícil mensagem de que Deus permite o
sofrimento humano, até dos justos, sem que isso seja um problema em sua infinita
bondade, pois antecipa um argumento muito utilizado que
diz que os justos sofrem porque Deus não é plenamente justo e bom. Ou até de
que somente onde há sofrimento há pecado, de modo que somente os pecadores é
que sofrem. E responde de forma clara que esse tipo de entendimento
não faz sentido, porque apesar do sofrimento, Deus é totalmente justo e bom (Jó
1:1-2:13; 42:7-17).
Hoje em dia nos é comum argumentar que Deus não é capaz de livrar-nos do sofrimento. Em outras palavras, quem
pensa assim coloca em dúvida a soberania de Deus.
O fato de frequentemente o homem não
entender os propósitos de Deus por trás do sofrimento, não lhe dá o direito de
questionar a justiça, a bondade e a soberania de Deus. (Jó 28) A história
de José do Egito é um exemplo de como Deus pode aperfeiçoar a fé e o caráter de
seus servos através do sofrimento, e tornar o mal em bem para cumprir os seus
propósitos eternos (Gênesis 50:20).
Os primeiros capítulos do livro de Jó
começam com uma espécie de “desafio”.
Homem sincero, reto e temente a Deus, desvia-se do mal (1:1), de tal modo
que, em seu tempo, ninguém havia na terra semelhante a ele. Não era perfeito,
nem isento de falhas, mas destacava-se por seu propósito e empenho em viver de
forma honesta e correta diante de Deus e dos homens. Praticava o que era certo e
rejeitava o que era errado. Homem com qualidades de caráter dignas de serem
imitadas e de integridade inquestionável, uma vez ter sido afirmada pelo
próprio Deus: “E disse o Senhor a Satanás: observaste o meu servo Jó?
Porque ninguém há na terra semelhante a
ele, homem sincero e reto, temente a
Deus, desviando-se do mal” (1:8).
Que assinatura mais confiável pode haver para alguém, um atestado de boa
conduta, de integridade moral e espiritual dada pelo próprio Deus! O próprio Deus aqui confiou nele!
Então acusador Satanás, alegou que Jó só era fiel a Deus por conveniência. Na lógica de Satanás, Jó servia a Deus por
interesse, ou seja, porque Deus lhe abençoava muito. Satanás ao lançar o “desafio” desconsiderou que, se fosse assim, a
devoção de Jó não deveria ou seria aceita, porque o Senhor não se agrada de
adoração artificial e fingida, antes procura por aqueles que o adorem em
espírito e em verdade , como está lá em (João 4:23)
O Senhor Deus então permitiu
que Jó fosse testado. A partir dali a fé de Jó começou a ser provada e
aperfeiçoada através de terrível sofrimento.
A princípio e a grosso modo para um leigo que lê este livro pela primeira vez
vai parecer totalmente sádico, cruel e abusivo por parte de Deus. O que é isso?
Basicamente e de uma forma ignorante falando, é Deus e Satanás fazendo uma
“aposta”. Veja bem! Esse é um ponto muito
importante entender para que reflitamos a profundidade que o livro merece.
Já sabemos e aprendemos antes que Deus nos conhece o íntimo e conhece o nosso
coração. Ele sabe coisas absolutas que até Satanás nem imagina. Ele não
dependeria de ações práticas ou demonstrações para se ter uma prova de algo ou
do próprio Jó. O Senhor não teve dúvidas quanto a fidelidade de Jó, mas ali
precisava ser mostrado a Satanás e registrado na sua Sagrada Palavra de que ele
não falharia.
Chama-nos a atenção o fato de que foi o próprio Deus quem definiu a Jó como reto e íntegro no diálogo com Satanás. Considerando que a integridade genuína
de Jó é essencial ao significado do livro, ressaltá-la é de máxima importância
à mensagem que apresenta. O livro de Jó então é uma importante lição de
perseverança e de fé.
Satanás não perdeu tempo. Diz o texto bíblico que ele saiu da presença do
Senhor (1:12) e então sucedeu (1:13) que notícias trágicas começaram a chegar.
De repente, de um momento para o outro, tudo lhe foi tirado: os rebanhos, os
empregados e até os filhos e as filhas. A forma como as notícias chegaram
também merece destaque: um mensageiro ainda estava noticiando uma das tragédias
e alguém chegava com outra comunicação desoladora, sem que ele tivesse tempo
para assimilar a informação anterior. Quatro vezes, sucessivamente.
A essa
altura, Satanás deveria estar na expectativa de que ouviria a presumida
blasfêmia contra o Senhor.
Então Jó
apresentou a sua resposta. Notável resposta. Humanamente surpreendente. Ele se
levantou e rasgou o seu manto, sinal de dor e luto, porém lançou-se em terra e
adorou. Exatamente isso: adorou ao
Senhor. Ao lançar-se em terra, não o fez por desespero, porém em atitude de
humildade e submissão ao Senhor. E ainda disse: “Nu saí do ventre de minha mãe,
e nu voltarei; o Senhor o deu, e o Senhor o tomou; bendito seja o nome do
Senhor!” (1:20-21).
Ele não
atribuiu a Deus falta alguma (1:22); não blasfemou do Senhor, o contrário, o
exaltou e o adorou.
Jó então foi aferido com “tumores malignos da planta do pé até ao alto da
cabeça” (2:7). Não bastasse estar irreconhecivelmente desfigurado, tomado por
úlceras inflamadas que se abriam e supuravam, suportando fortes dores, Jó ainda
teve que enfrentar a provocação de quem menos esperava: a esposa. Em vez de
consolá-lo, agiu como instrumento de tentação, sugerindo que ele fizesse
exatamente aquilo que Satanás esperava dele: amaldiçoar a Deus. Talvez
considerando que a morte fosse a única forma de alívio que restasse a ele,
acrescentou outra sugestão que, se realizada, implicaria em suicídio (2:9). Jó
rejeitou as sugestões. Mais uma vez apresentou notável resposta: “temos
recebido o bem de Deus e não receberíamos também o mal?” (2:10). “em tudo isto
Jó não pecou com os seus lábios” (2:11).
Recebeu a visita de três amigos que passaram a acusá-lo de ter pecado para que
tamanho infortúnio lhe tivesse alcançado. Ele contestou as acusações
firmemente. Ainda que se queixasse do enorme sofrimento, manteve a sua
integridade, inclusive diante do silêncio de Deus. Apesar de também não ser capaz
de explicar o motivo do sofrimento do justo enquanto muitas vezes os ímpios
prosperam.
Jó estava sofrendo e não tinha qualquer
ideia do porquê. Mas confiava no Senhor.
Algumas vezes Jó pensava que Deus estava
irado com ele, mas ele não duvidou da justiça de Deus. Jó clamou em busca de
justificação.
O livro de Jó traz um interlúdio sobre a
sabedoria destacando que ninguém é capaz de sondar a sabedoria de Deus. Somente
Deus é o possuidor de toda sabedoria, enquanto as habilidades humanas são
limitadas. Então cabe ao homem apenas temer a Deus e obedecer aos seus
preceitos (Jó 28:1-28).
Este livro também registra um monólogo de Jó em que ele reflete sobre
sua vida, afirma sua inocência e espera por justificação (Jó 29:1-31:40).
Por fim, o próprio Senhor rompeu o silêncio (38:1). Não acusou Jó de pecado
algum. Também não lhe deu explicações diretas sobre o seu sofrimento, como
tantas vezes Jó pedira. O Senhor respondeu apresentando-se a si mesmo como Deus
de sabedoria e poder. E isso foi suficiente para Jó.
O
principal aspecto da prova estava vencido: Jó permaneceu amando a Deus e
mantendo a fé na bondade do Senhor, mesmo
estando destituído de todos os seus bens, família e saúde. Através de Jó,
ficou provado que é possível alguém amar a Deus tão somente por quem Deus é.
O que aprendemos com o livro de Jó?
Depois de
tudo passado, o Senhor restituiu a Jó, em dobro, tudo o que antes possuía.
Devolveu-lhe a saúde, os bens e também a família, dando-lhe sete filhos e três
filhas, de modo que seu último estado foi ainda mais abençoado do que o
primeiro (42:10-17). Jó teve longevidade, vivendo mais cento e quarenta anos e
vendo a sua descendência até a quarta geração. Morreu velho e farto de dias
(42:17).
O livro nos mostra que a verdadeira fé é
inabalável. E nos deixa a pergunta: Quem
de nós hoje, não maldiria o Senhor ou abandonaria nossa fé mediante tanto
infortúnio? E o pior ainda: sendo bom, temente a Deus e caminhando
retamente em seus caminhos? Como entender isso? Sem entender absolutamente nada
nós ficaríamos perdidos! E certamente deixaríamos Deus de lado. Jó foi uma peça
fundamental em sua Palavra para nos mostrar que essa fé é possível.
E aprendemos que a vida não é destruída pelo sofrimento e nem é sufocada pela
limitação da sabedoria humana em encontrar respostas para tudo. Aprendemos a
confiar em Deus, até mesmo sem
entendê-lo. A Bíblia traz muitos exemplos da confiança em Deus sem
entendimento racional. “Quem, pois, conhece a mente do Senhor?” (Rm. 11:34). "Ora,
o homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque parecem
loucura, e não pode entendê-las, porque elas se discernem
espiritualmente". (1 Coríntios 2.14)
Aprendemos que a verdadeira fé é
aperfeiçoada, até mesmo na dor e nos conduz à adoração humilde perante o Senhor
enquanto aguarda com confiança o seu socorro divino. O livro de Jó mostra que o
povo de Deus pode sofrer, mas por mais que o sofrimento possa ser intenso, em
algum momento ele chegará ao fim e será recompensado, assim como há tantas
promessas em sua Palavra.
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