quarta-feira, 26 de janeiro de 2022

Estudo sobre Jó

 Estudo sobre Jó.

Este livro é mais que uma narrativa, ele oferece-nos um profundo ensino teológico sobre o relacionamento com Deus, com base na experiência de um homem chamado Jó. Fala-nos sobre o sofrimento, sim, mas, sobretudo, fala-nos sobre o amor ao Senhor e da fé em Deus. A fé que independe das circunstâncias, uma vez que está firmada no conhecimento de quem Deus é e do que Ele pode fazer.  A respeito das causas do sofrimento humano, a nossa fragilidade e nossa existência, e os motivos para se crer em Deus mesmo quando a vida parece muito injusta.

Assim, o livro de Jó não tem por finalidade explicar as razões ou as causas do sofrimento humano, ainda que esteja abordando este assunto de forma predominante em suas páginas. Antes de tudo, o livro é uma proclamação teológica da grandeza de Deus, de seu poder e de seu amor.  

Como se dá em toda a Bíblia, o livro de Jó aponta para Jesus Cristo. De forma especial, pela fé e esperança de Jó numa existência futura, exortando os fiéis a olharem além das tribulações desta vida em direção à gloriosa Ressurreição possibilitada pelo Salvador ao declarar: “Eu sei que o meu Redentor vive” e “depois de destruído este meu corpo, ainda verei a Deus” (Jó 19:25 e 26). Ele aguardava confiantemente por um dia vindouro em que Alguém se levantaria sobre a terra para defender a sua causa e redimir a sua vida. Esta esperança tem o seu cumprimento em Jesus. A citação do nome de Jó em Ezequiel 14:14 e 20, em associação com Noé e Daniel, e em Tiago 5:11, dão base à inferência de que sua história é real.


Em sua brilhante história de um homem que se permaneceu íntegro e fiel a Deus mesmo em meio a tantas e duras provações e tentações e com sua experiência e convicção de Jó, este livro nos convida a refletir sobre duras perguntas e difíceis, como “Por que as pessoas justas escolhem a retidão?” e “Por que os justos sofrem?” — mas não
oferece respostas simples. Na verdade, o livro de Jó convida os leitores fiéis a exercerem fé em Deus, como quando Jó disse acerca do Senhor: “Ainda que ele me mate, nele esperarei” (Jó 13:15)

O livro de Jó nos passa também a difícil mensagem de que Deus permite o sofrimento humano, até dos justos, sem que isso seja um problema em sua infinita bondade, pois
antecipa um argumento muito utilizado que diz que os justos sofrem porque Deus não é plenamente justo e bom. Ou até de que somente onde há sofrimento há pecado, de modo que somente os pecadores é que sofrem. E responde de forma clara que esse tipo de entendimento não faz sentido, porque apesar do sofrimento, Deus é totalmente justo e bom (Jó 1:1-2:13; 42:7-17).

Hoje em dia nos é comum
argumentar que Deus não é capaz de livrar-nos do sofrimento. Em outras palavras, quem pensa assim coloca em dúvida a soberania de Deus.

O fato de frequentemente o homem não entender os propósitos de Deus por trás do sofrimento, não lhe dá o direito de questionar a justiça, a bondade e a soberania de Deus. (Jó 28) A história de José do Egito é um exemplo de como Deus pode aperfeiçoar a fé e o caráter de seus servos através do sofrimento, e tornar o mal em bem para cumprir os seus propósitos eternos (Gênesis 50:20).

Os primeiros capítulos do livro de Jó começam com uma espécie de “desafio”.

Homem sincero, reto e temente a Deus, desvia-se do mal (1:1), de tal modo que, em seu tempo, ninguém havia na terra semelhante a ele. Não era perfeito, nem isento de falhas, mas destacava-se por seu propósito e empenho em viver de forma honesta e correta diante de Deus e dos homens. Praticava o que era certo e rejeitava o que era errado. Homem com qualidades de caráter dignas de serem imitadas e de integridade inquestionável, uma vez ter sido afirmada pelo próprio Deus: “E disse o Senhor a Satanás: observaste o meu servo Jó? Porque ninguém há na terra semelhante a ele, homem sincero e reto, temente a Deus, desviando-se do mal” (1:8).

Que assinatura mais confiável pode haver para alguém, um atestado de boa conduta, de integridade moral e espiritual dada pelo próprio Deus!
O próprio Deus aqui confiou nele!

Então acusador Satanás, alegou que Jó só era fiel a Deus por conveniência.
Na lógica de Satanás, Jó servia a Deus por interesse, ou seja, porque Deus lhe abençoava muito.  Satanás ao lançar o “desafio” desconsiderou que, se fosse assim, a devoção de Jó não deveria ou seria aceita, porque o Senhor não se agrada de adoração artificial e fingida, antes procura por aqueles que o adorem em espírito e em verdade , como está lá em (João 4:23)

O Senhor Deus então
permitiu que Jó fosse testado. A partir dali a fé de Jó começou a ser provada e aperfeiçoada através de terrível sofrimento.

A princípio e a grosso modo para um leigo que lê este livro pela primeira vez vai parecer totalmente sádico, cruel e abusivo por parte de Deus. O que é isso? Basicamente e de uma forma ignorante falando, é Deus e Satanás fazendo uma “aposta”.  Veja bem! Esse é um ponto muito importante entender para que reflitamos a profundidade que o livro merece.

Já sabemos e aprendemos antes que Deus nos conhece o íntimo e conhece o nosso coração. Ele sabe coisas absolutas que até Satanás nem imagina. Ele não dependeria de ações práticas ou demonstrações para se ter uma prova de algo ou do próprio Jó. O Senhor não teve dúvidas quanto a fidelidade de Jó, mas ali precisava ser mostrado a Satanás e registrado na sua Sagrada Palavra de que ele não falharia.

Chama-nos a atenção o fato de que foi o próprio Deus quem definiu a Jó como reto e íntegro no diálogo com Satanás. Considerando que a integridade genuína de Jó é essencial ao significado do livro, ressaltá-la é de máxima importância à mensagem que apresenta. O livro de Jó então é uma importante lição de perseverança e de fé.

Satanás não perdeu tempo. Diz o texto bíblico que ele saiu da presença do Senhor (1:12) e então sucedeu (1:13) que notícias trágicas começaram a chegar. De repente, de um momento para o outro, tudo lhe foi tirado: os rebanhos, os empregados e até os filhos e as filhas. A forma como as notícias chegaram também merece destaque: um mensageiro ainda estava noticiando uma das tragédias e alguém chegava com outra comunicação desoladora, sem que ele tivesse tempo para assimilar a informação anterior. Quatro vezes, sucessivamente.

A essa altura, Satanás deveria estar na expectativa de que ouviria a presumida blasfêmia contra o Senhor.

Então Jó apresentou a sua resposta. Notável resposta. Humanamente surpreendente. Ele se levantou e rasgou o seu manto, sinal de dor e luto, porém lançou-se em terra e adorou. Exatamente isso: adorou ao Senhor. Ao lançar-se em terra, não o fez por desespero, porém em atitude de humildade e submissão ao Senhor. E ainda disse: “Nu saí do ventre de minha mãe, e nu voltarei; o Senhor o deu, e o Senhor o tomou; bendito seja o nome do Senhor!” (1:20-21).

Ele não atribuiu a Deus falta alguma (1:22); não blasfemou do Senhor, o contrário, o exaltou e o adorou.


Jó então foi aferido com “tumores malignos da planta do pé até ao alto da cabeça” (2:7). Não bastasse estar irreconhecivelmente desfigurado, tomado por úlceras inflamadas que se abriam e supuravam, suportando fortes dores, Jó ainda teve que enfrentar a provocação de quem menos esperava: a esposa. Em vez de consolá-lo, agiu como instrumento de tentação, sugerindo que ele fizesse exatamente aquilo que Satanás esperava dele: amaldiçoar a Deus. Talvez considerando que a morte fosse a única forma de alívio que restasse a ele, acrescentou outra sugestão que, se realizada, implicaria em suicídio (2:9). Jó rejeitou as sugestões. Mais uma vez apresentou notável resposta: “temos recebido o bem de Deus e não receberíamos também o mal?” (2:10). “em tudo isto Jó não pecou com os seus lábios” (2:11).


Recebeu a visita de três amigos que passaram a acusá-lo de ter pecado para que tamanho infortúnio lhe tivesse alcançado. Ele contestou as acusações firmemente. Ainda que se queixasse do enorme sofrimento, manteve a sua integridade, inclusive diante do silêncio de Deus. Apesar de também não ser capaz de explicar o motivo do sofrimento do justo enquanto muitas vezes os ímpios prosperam.


Jó estava sofrendo e não tinha qualquer ideia do porquê. Mas confiava no Senhor.

Algumas vezes Jó pensava que Deus estava irado com ele, mas ele não duvidou da justiça de Deus. Jó clamou em busca de justificação.

O livro de Jó traz um interlúdio sobre a sabedoria destacando que ninguém é capaz de sondar a sabedoria de Deus. Somente Deus é o possuidor de toda sabedoria, enquanto as habilidades humanas são limitadas. Então cabe ao homem apenas temer a Deus e obedecer aos seus preceitos (Jó 28:1-28).

Este livro também registra um monólogo de Jó em que ele reflete sobre sua vida, afirma sua inocência e espera por justificação (Jó 29:1-31:40).

Por fim, o próprio Senhor rompeu o silêncio (38:1). Não acusou Jó de pecado algum. Também não lhe deu explicações diretas sobre o seu sofrimento, como tantas vezes Jó pedira. O Senhor respondeu apresentando-se a si mesmo como Deus de sabedoria e poder. E isso foi suficiente para Jó.

O principal aspecto da prova estava vencido: Jó permaneceu amando a Deus e mantendo a fé na bondade do Senhor, mesmo estando destituído de todos os seus bens, família e saúde. Através de Jó, ficou provado que é possível alguém amar a Deus tão somente por quem Deus é.

O que aprendemos com o livro de Jó?

Depois de tudo passado, o Senhor restituiu a Jó, em dobro, tudo o que antes possuía. Devolveu-lhe a saúde, os bens e também a família, dando-lhe sete filhos e três filhas, de modo que seu último estado foi ainda mais abençoado do que o primeiro (42:10-17). Jó teve longevidade, vivendo mais cento e quarenta anos e vendo a sua descendência até a quarta geração. Morreu velho e farto de dias (42:17).

O livro nos mostra que a verdadeira fé é inabalável. E nos deixa a pergunta: Quem de nós hoje, não maldiria o Senhor ou abandonaria nossa fé mediante tanto infortúnio? E o pior ainda: sendo bom, temente a Deus e caminhando retamente em seus caminhos? Como entender isso? Sem entender absolutamente nada nós ficaríamos perdidos! E certamente deixaríamos Deus de lado. Jó foi uma peça fundamental em sua Palavra para nos mostrar que essa fé é possível.

E aprendemos que a vida não é destruída pelo sofrimento e nem é sufocada pela limitação da sabedoria humana em encontrar respostas para tudo. Aprendemos a confiar em Deus, até mesmo sem entendê-lo. A Bíblia traz muitos exemplos da confiança em Deus sem entendimento racional. “Quem, pois, conhece a mente do Senhor?” (Rm. 11:34). "Ora, o homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque parecem loucura, e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente". (1 Coríntios 2.14)

Aprendemos que a verdadeira fé é aperfeiçoada, até mesmo na dor e nos conduz à adoração humilde perante o Senhor enquanto aguarda com confiança o seu socorro divino. O livro de Jó mostra que o povo de Deus pode sofrer, mas por mais que o sofrimento possa ser intenso, em algum momento ele chegará ao fim e será recompensado, assim como há tantas promessas em sua Palavra.


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